quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Canoagem portuguesa de "prata" nos Jogos Olímpicos de Londres/2012

O Museu Virtual do Desporto Português abre hoje propositadamente as suas portas para evocar mais um feito histórico alcançado pelos atletas lusitanos no maior evento desportivo do planeta: as Olimpíadas. Hoje, 8 de agosto de 2012, uma data que ficará gravada a letras de ouro na "grande enciclopédia" do desporto português, o dia em que Emanuel Silva e Fernando Pimenta entraram definitivamente para o Olimpo dos Deuses do nosso desporto, depois de terem alcançado a 2ª posição na final de K2 1000m masculinos em canoagem, prova inserida nos Jogos Olímpicos que por estes dias decorrem em Londres. Na magnífica pista de Eton Dorney a dupla portuguesa conquistou uma inédita medalha de prata para a canoagem lusitana, aliás, inédita em todos os sentidos, pois este foi a primeira medalha de sempre obtida por Portugal nesta modalidade no seio das Olimpíadas. Emanuel Silva e Fernando Pimenta fizeram desde início uma prova magistral, patenteando uma raça e uma entrega ímpares, deixando para trás alguns rivais de peso, que por certo, não contavam com este "atrevimento" dos portugueses, os quais terminaram a prova com um tempo de 3:09,699 minutos, a escassos 53 centésimos de segundo (!!!) da dupla vencedora, os alemães Rudolf Dombi e Roland Kokeny. No final da corrida os canoístas lusos não cabiam em si de alegria, como seria de esperar, já que este foi o ponto mais alto da sua carreira, pese embora tivessem confessado posteriormente que a prata acabou por saber a pouco, uma vez que o ouro fugiu a uns curtos centésimos de segundo, como já referimos.

Biografias...

Emanuel Silva, apesar dos seus 26 anos, é o mais experiente dos dois atletas, participando na sua terceira edição dos Jogos Olímpicos, depois de Atenas (2004) e Pequim (2008). Nasceu nos arredores de Braga, mais concretamente em S. Paio de Merelim, a 4 de dezembro de 1985. É detentor de um vasto e rico currículo não só na canoagem nacional como internacional, sendo neste último patamar de sublinhar as medalhas obtidas no Campeonato do Mundo de Juniores de 2003, em Komatsu (Japão), onde alcançou o ouro na prova de K1 500m, e a prata na corrida de K1 1000m. Como sénior atingiu o estrelato ao classificar-se com apenas 19 anos para as Olimpíadas de Atenas, em 2004, onde surpreendeu tudo e todos ao atingir a final de K1 1000m, tendo alcançado um memorável 7º lugar. Em 2005 vence o Campeonato da Europa sub-23 anos em K1 1000m, e neste mesmo ano alcança a sua primeira medalha enquanto atleta sénior, um feito ocorrido na cidade polaca de Poznan, onde arrecadou o bronze na sequência do 3º lugar de K1 1000m. No ano seguinte é de novo campeão da Europade sub-23 anos em K1 1000m, e em 2011 alcança novo feito no escalão de seniores, desta feita em K4 1000m, ao subir ao lugar mais alto do pódio na Taça do Mundo que decorreu em Poznan. Hoje, em Londres, no maior evento desportivo do planeta, atingiu, como já vimos, e nunca é demais relembrar, o ponto mais alto da sua carreira, a MEDALHA DE PRATA.

Fernando Pimenta é o mais novo destas duas novas lendas do desporto português. Nasceu em Ponte de Lima a 13 de agosto de 1989, e até chegar a Londres tinha como principal cartão de visita uma medalha de ouro em K4 1000m masculinos nos campeonatos da Europa realizados em 2011 na cidade sérvia de Belgrado.

Vídeo: FINAL DE K2 1000M DOS JOGOS OLÍMPICOS DE LONDRES

terça-feira, 7 de agosto de 2012

A atribulada conquista da primeira medalha olímpica

Foi nos "braços" da deslumbrante Paris que Portugal sentiu pela primeira vez o perfume de uma medalha olímpica. 1924 foi ano desse momento mágico do desporto lusitano, o ano em que um grupo formado por cavaleiros do exercito e cavaleiros civis conquistou então para o nosso país a primeira medalha no seio daquele que era já considerado por muitos como o maior evento desportivo do planeta: os Jogos Olímpicos.

Mas como é apanágio da nação portuguesa este foi um feito que esteve longe de ser alcançado com tranquilidade, digamos assim. Na entrada para os anos 20 do século passado Portugal vivia mergulhado numa grave recessão económica - onde é que já ouvimos isto! -, a moeda desvalorizava a pique ao mesmo tempo que o número de pedintes disparava como uma flecha nas artérias das principais urbes da nação. Cenário arrepiante que não impedia o presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), José Pontes, de sonhar em levar a missão lusitana ao grande palco de desporto mundial.

Não foi contudo uma tarefa fácil, até porque o país estava de bolsos vazios, e a maior parte dos governantes não via com bons olhos dispensar os poucos recursos que dispunha para custear a deslocação portuguesa a Paris. José Pontes não desistiu, bateu a todas as portas que viu pela frente na tentativa de juntar os 300 contos calculados pelo COP no orçamento para tornar o sonho Paris uma realidade. Pediu "aqui e ali", suplicou a políticos que não virassem a cara ao sonho olímpico português, e do Ministério da Instrução acabou por receber uma ajuda de 110 contos. Não chegava. Fizeram-se peditórios, e a boa vontade do Presidente da República de então, Teixeira Gomes, acabou muito a custo por resolver a questão, ao colocar do seu próprio bolso o dinheiro que faltava para Portugal ir a Paris. Ao contrário do que sucedeu em 1900 Paris acolheu os Jogos Olímpicos com outra atitude, encarando-os de um modo mais sério... e pomposo.

Construíram-se novas infraestruturas, com realce para o magnífico Estádio des Colombes, e a piscina de Tourelles. Pela primeira vez na história do evento era edificada uma aldeia olímpica, um espaço reservado para alojar os atletas participantes. Não foram portanto poupados esforços, e francos (!), para que a bela Paris limpasse a má imagem deixada durante os Jogos Olímpicos de 1900. E Portugal lá estava, de bolsos vazios, mas lá estava, entre os melhores atletas do Mundo. A ambição de elevar o nome da nação bem alto era partilhada pela missão lusitana, onde se viria a destacar um grupo de quatro cavaleiros, constituído pelo capitão Mouzinho de Albuquerque, o tenente Hélder Martins, Aníbal Borges de Almeida, e Luís Margaride, quatro nomes que no hipismo haveriam de fazer história. Atribulada,seria no entanto esta façanha, como aliás havia sido a presença lusitana na capital francesa.

Hebraico, o famoso cavalo do melhor cavaleiro português da altura, Mouzinho de Albuquerque, adoecera pouco antes do início dos Jogos, pelo que teve de ser alimentado a açúcar até às vésperas da prova, privando-se da habitual ração que lhe conferia a energia suficiente para vencer os obstáculos. Outro dos cavalos do contingente luso havia sido... emprestado (!) por um abastado e solidário homem português, Reinaldo Pinto Bastos, de seu nome, que em prol da pátria cedeu o seu precioso animal. Mas, mesmo com todas estas adversidades Portugal surpreendeu tudo e todos ao conquistar o 3º lugar na prova de obstáculos.

Entre 50 concorrentes à partida 34 conseguiram terminar a dura prova, e o conjunto luso fê-lo no 3º lugar, com um total de 53 pontos somados, mais três do que a Suíça, ao passo que a Suécia ficou no 1º posto com um total de 42,5 pontos. Com este magnífico resultado Portugal conquistava a MEDALHA DE BRONZE, A SUA PRIMEIRA MEDALHA OLÍMPICA DA HISTÓRIA. E a cor da medalha até podia bem ter sido outra, caso o lendário Hebraico não tivesse adoecido dias antes do início da prova, conforme lamentaria posteriormente o grande cavaleiro português Mouzinho de Albuquerque, um dos artesãos desta inesquecível epopeia lusitana.

(Nota: em cima a histórica fotografia dos conquistadores da não menos histórica medalha de bronze em Paris: da esquerda para a direita: Luís Margaride, Mouzinho de Albuquerque, Manuel Latinos (chefe de equipa), Aníbal Borges de Almeida, e Hélder Martins).