quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Telma Monteiro de bronze nas Olimpíadas do Rio de Janeiro 2016

São abertas hoje, a título de exceção, as portas do Museu Virtual do Desporto Português para evocar e posteriormente guardar nestas vitrines virtuais um novo feito do desporto português no palco do maior evento desportivo do planeta, vulgo os Jogos Olímpicos. Uma conquista alcançada nas Olimpíadas que decorrem no Rio de Janeiro, no dia 8 de agosto, um dia que será lembrado pela eternidade fora como o momento em que a melhor judoca portuguesa da história - pelo menos até ao instante em que são escritas estas linhas - arrecadou a medalha de bronze na categoria de -57kg após derrotar a romena Corina Caprioriu. Nascida em Lisboa, a 27 de dezembro de 1985, Telma Monteiro abraçou a prática de judo aos 14 anos, tendo, de lá para cá, construído um currículo verdadeiramente notável no seio da modalidade, onde se destacam, entre dezenas de competições nacionais e internacionais, as conquistas de cinco títulos euros (2006, 2007, 2009, 2012 e 2014), quatro vice-campeonatos do Mundo (2007, 2009, 2010 e 2014) e uma medalha de ouro nos Jogos Europeus de Baku (2015). A cereja no topo do bolo foi conquistada na Cidade Maravilhosa (Rio de Janeiro), onde a judoca participou nos seus quartos Jogos Olímpicos (os primeiros foram em Atenas, em 2004). Na corrida ao bronze, Telma começou por atirar ao tatami (tapete) a neozelandesa Darcina Manuel, seguindo-se a derrota com Dorjsuren, da Mongólia, facto que colocaria a portuguesa no caminho pela disputa da medalha de bronze. E o primeiro obstáculo na fase da repescagem foi a francesa Automne Pavia, que quatro anos antes, em Londres, havia conquistado precisamente o bronze olímpico. Mas diante de uma super Telma a judoca gaulesa não teve argumentos para defender a medalha e acabou por cair. No combate decisivo na luta pelo bronze, no combate mais importante da vida de Telma Monteiro, foi então a vez da romena Caprioriu tombar, tendo a atleta lusa pontuado com yuko nos instantes iniciais, defendendo-se com mestria dos ataques da adversária até ao fim, garantindo dessa forma a medalha mais importante da sua vasta e gloriosa carreira. Parabéns Telma.

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Salto rumo a um novo bronze olímpico

O ano de 1936 é um bom exemplo de como os meios políticos procuraram - em determinados períodos da história da Humanidade - usar a popularidade dos grandes eventos desportivos para evidenciar ao Mundo as suas ideologias. Berlim acolheu nesse referido ano aquela que era já inequivocamente a maior manifestação desportiva do planeta, os Jogos Olímpicos. A Alemanha de então vivia sob o regime nazista comandado por Adolf Hitler. Vendo nos Jogos a ferramenta ideal para mostrar ao Mundo a superioridade da raça ariana o líder nazi não se pouparia a esforços para fazer destas as Olimpíadas mais espetaculares da história. Hitler montou então uma autêntica máquina de propaganda política através dos Jogos. Com um orçamento ilimitado não deixou ao acaso o mínimo detalhe que pudesse colocar em perigo a sua estratégia de assalto ao poder através do mega evento desportivo. Um estádio olímpico foi construído propositadamente, e aos atletas alemães tudo era dado e permitido para que se pudessem preparar conveniente para o evento e desta forma conquistar o máximo número de medalhas de ouro que traduzissem a superioridade da raça ariana. Bom, esta é uma curta descrição do cenário em que decorreram as Olimpíadas de 1936, que no final acabariam, na verdade, por provocar um terrível amargo de boca ao próprio Hitler - muito por culpa de um tal Jesse Owens - mas que aos portugueses deixaram doces lembranças. E são precisamente essas doces lembranças que servem de mote para a viagem ao passado que hoje iremos efetuar, uma viagem rumo à medalha de bronze conquistada pela nação lusa em Berlim. Feito alcançado por uma modalidade que na primeira década do século XX trouxe alegrias e prestígio a Portugal: o hipismo. Nunca será demais recordar que foi pela mão de três nobres cavaleiros (António Borges, Hélder de Souza e José Mouzinho) que em 1924 o nosso país arrecadou nos Jogos de Paris a primeira medalha olímpica da sua história, efeméride já aqui relatada com pompa e circunstância no Museu Virtual do Desporto Português. Doze anos depois da conquista do bronze olímpico na Cidade Luz eis que Portugal voltou a saltar com êxito rumo a uma nova medalha de bronze, desta feita por intermédio de José Beltrão, Luís Mena e Silva, e Domingos de Sousa Coutinho, três cavaleiros provenientes da mais fina flor do hipismo português daquele tempo que nos Jogos de Berlim subiram ao degrau mais baixo do pódio no Grande Prémio das Nações. Porém, a epopeia dos três oficiais do Exército não principiou da melhor forma. Na antecâmara da viagem para Berlim, Silvain, o cavalo do tenente Mena e Silva sofreu uma queda e ficou sem condições físicas de prosseguir a aventura olímpica, facto que desde logo colocou em risco a presença do cavaleiro nos Jogos. O também tenente José Beltrão, que haveria de ser a pedra fundamental na conquista do bronze olímpico, desenrascou em cima do embarque o seu companheiro de equipa, emprestando-lhe um dos seus dois cavalos, no caso o Fossette. Assunto resolvido. Estavam no entanto longe de ter um fim as dificuldades da equipa portuguesa nesta sua primeira aventura olímpica. As maiores complicações surgiram quiçá no dia da prova, do Grande Prémio das Nações, que juntou 18 equipas em busca das medalhas. Foi uma competição dura, difícil, com um traçado composto por 13 obstáculos de elevado grau de dificuldade, facto comprovado pela desistência de 11 equipas. Com raça, alma (enorme) e talento os portugueses aguentarem-se em pista, contornaram os obstáculos, acabando por chegar às medalhas com todo o mérito e justiça. Montando o seu Merle Blanc, o capitão Sousa Coutinho foi 16º, enquanto que Fossette e Mena e Silva ficou na 21ª posição. A performance de José Beltrão e do seu (cavalo) Biscuit - os últimos da equipa nacional a entrar na pista - haveria de ser decisiva na conquista da medalha. O sexto lugar por si alcançado somado aos resultados dos seus companheiros de equipa seria suficiente para que Portugal subisse ao pódio e receber a medalha de bronze, a terceira da sua história olímpica, e a segunda obtida por através do hipismo. Em termos de pontuação Portugal somou neste Grande Prémio das Nações 56 pontos, sendo apenas superado pela Alemanha (medalha de ouro) e pela Holanda (medalha de prata). Beltrão (que haveria de ter desfecho de vida trágico, já que a queda de um cavalo durante um treino no Hipódromo do Campo Grande, em 1948, tirou-lhe a vida) fez em Berlim uma prova quase perfeita, e não fossem os três obstáculos derrubados talvez o bronze tivesse sido transformado em ouro.  

Flashes Biográficos (1)... Dário Canas

DÁRIO CANAS (Tiro): Iniciamos hoje uma nova rubrica no Museu Virtual do Desporto Português, onde na qual, e de forma breve, se pretende traçar o registo biográfico dos nomes que fizeram - ou fazem - parte da história desportiva de Portugal. A partida é dada com uma figura do tiro, uma ilustre figura, melhor dizendo, não só pelo seu trajeto desportivo na modalidade como de igual modo pelo relevo alcançado nas áreas da política e do associativismo vida política e social. Dário Canas é o nome deste cidadão nascido em Lisboa na década de 80 do século XIX - mais concretamente a 29 de fevereiro de 1884 - que no início do século seguinte se viria a revelar como um dos mais virtuosos atiradores nacionais, talento que o iria levar em duas ocasiões ao palco principal do desporto global, o mesmo será dizer, os Jogos Olímpicos. Dário Canas é também um nome mítico de um dos emblemas mais antigos de Portugal, o Ginásio Clube Português (GCP), fundado em 1875. Clube eclético e dinâmico que em 1902 organizou uma das primeiras grandes competições de tiro no nosso país, a I Cruzada de Tiro Nacional, que viria a consagrar Canas como o primeiro civil a conquistar o diploma de atirador de 1ª classe. Empresário agrícola de profissão, Dário Canas viu-lhe ser reconhecida a sua mestria de exímio atirador no verão de 1920, altura em que integra a delegação portuguesa nos Jogos Olímpicos de Antuérpia. Juntamente com Hermínio Rebelo, António dos Santos, António Andréa Ferreira, António da Silva Martins e António Montez ele foi um dos atletas que compôs a equipa nacional de tiro que pela primeira vez levou a modalidade a uma Olimpíada. Facto que o fez entrar, uma vez mais, para a história do GCP, já que ao lado de Frederico Paredes, João Sasseti, Jorge Paiva e Henrique da Silveira (todos atletas de esgrima) levou pela primeira vez o nome deste clube aos Jogos. Na cidade dos diamantes, como é mundialmente conhecida Antuérpia, Canas participou em cinco disciplinas de tiro, nomeadamente na de Carabina 300 a 600 metros por equipas, onde obteve um 11º lugar num total de 14 nações participantes; na de Carabina 300 metros Deitado também por equipas, não indo além do 15º e último lugar da classificação final; na de Carabina 300 metros de Pé novamente em equipas em que foi 11º posicionado num total de 15 combinados; na disciplina de Carabina 600 metros Deitado por equipas onde não foi além de um 14º e último lugar na geral; e na prova coletiva de Revólver a 30 metros, em que se quedou pelo 8º e último lugar da classificação geral. Não foi, como os resultados indicam, uma prestação brilhante da equipa nacional, valendo, no entanto, o facto de ter competido com os melhores atiradores do planeta daquela época. Quatros anos volvidos a equipa nacional de tiro voltou aos Jogos, desta feita realizados em Paris, tendo Dário Canas integrado o leque de exímios atiradores portugueses. Na Cidade Luz participou apenas em duas provas, sendo que em uma delas atuou de forma individual, a sua única aparição olímpica na variante singular, em que alcançou o 61º posto na prova de arma livre. Na mesma disciplina mas na variante coletiva foi 17º num total de 18 equipas.
A sua ligação ao desporto, e ao tiro em particular, estendeu-se ao dirigismo associativo. Entre 1932 e 1937 foi membro do Comité Olímpico Português, tendo ainda desempenhado funções de presidente da Federação Nacional de Tiro e vice-presidente do GCP. Noutros campos o seu nome fica ligado à atividade agrícola, onde na qual foi um dedicado e vincado empresário, tendo em 1952 sido co-fundador da Cooperativa Agrícola dos Produtores de Leite, da qual foi presidente de Direção e da Assembleia Geral. Neste mesmo ano fundou ainda a Companhia Agrícola de Compra e Venda de Loures, município este onde na área política entre 1933 e 1949 desempenhou funções de presidente da Câmara Municipal. Ainda no plano político - outra área onde se destacou - foi membro da Assembleia da República na I e na II Lesgislatura (entre 1935 e 1942) tendo como área de intervenção a Educação Física e Desportos, ficando aqui célebre pelo facto de ter ajudado à reorganização da Educação Física no ensino secundário. Faleceu a 3 de junho de 1966.